quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A experiencia da casa de passagem


A experiência da Casa de Passagem

A mais recente pesquisa sobre crianças e adolescentes de rua, submetidos à exploração ou prestes a isso, foi realizada em 1991 e 1992 pelo Centro Brasileiro da Criança e do Adolescente – Casa de Passagem, no Recife, só com meninas e com apoio da Save the Children. Contaram 1.015 meninas (53% dos 6 aos 16 anos). A ocorrência de prostituição entre elas se elevava a 45%. Essa pesquisa serviu para a Casa de Passagem iniciar seu trabalho que, segundo sua Diretora, Ana Vasconcelos, faz a defesa social e individual de meninas e adolescentes mulheres que vivem nas ruas.

"A filosofia do projeto é a abordagem psico-sócio-educativa, trabalhando com as meninas para seu fortalecimento individual e grupal, dando chance a que experimentem relações humanas mais construtivas" – diz a Diretora. Para isso é feito contato direto escutando a história de vida de cada uma, estimulando a fala e o valor pessoal, "quebrando o circuito de silêncio entre as mulheres pobres". Por esse caminho, a Casa de Passagem está sendo a mais bem sucedida reação contra a exploração de menores. Atua em 11 comunidades pobres, tem sede central dentro de uma delas. De 94 para cá, chegou a 200 mil atendimentos.

"Aqui tomo banho, dou banho no meu filho, tem psicólogo, refeição. Se essa casa fechar, vai ser o fim do mundo" – diz Maria Cláudia, 16 anos. Para isso há o apoio da cooperação internacional e parcerias com o Programa Criança Cidadã do Governo Federal. "Trabalhamos com quem o Estado não se interessa. Não se sabe como esse projeto vai sobreviver, mas não desistimos", diz a Diretora, antevendo que os apoios não são eternos. A Casa distribuiu nos últimos meses 30 mil folhetos sobre Aids e 50 mil camisinhas. O drama das meninas de rua é encenado pelo chamado Teatro da Saúde, da Casa, na peça O Bolero de Rachel, tendo as meninas como atrizes. A peça já foi assistida por 150 mil pessoas.

A adolescente Rute, 16 anos, hoje na Casa de Passagem, conta: "Eu tava dormindo muito drogada de Rupinol. Aí, a pessoa quando toma Rupinol pode fazer tudo que quiser que não sente nada. Aí um homem tirou minha roupa, fez o que quis comigo. Quando eu acordei, tava toda melada de sangue. Era de madrugada. Eu tinha 12 anos."